segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Ele riu... e ela caiu


Como podia, um homem de semblante tão tímido, poder rir daquele jeito?
Como podia ela ter se apaixonado por uma voz? Por uma risada? E pelo telefone?????????????
Sim, como era possível se encantar por uma voz sem rosto, sem corpo, sem toque,  sem beijo e sem abraço?
No meio de um turbilhão de compromissos, de repente, se viu descansada e acolhida em palavras soltas de um desconhecido muito paciente. Quando falava com ele o tempo parava, a pressa sumia e tudo parecia entrar de acordo com o que ele professava: tudo vai dar certo, relaxa... E ela relaxava...e as coisas davam certo no final. Se não pelo poder que ele tinha de transformá-las em simples, pela alegria e otimismo  que ela absorvia dele.
E assim ela se envolveu sem perceber. Em questão de poucos dias sentia alegria com os seus contatos. Sorria feliz e deixava de ser séria, de ser brava.
Ainda não sabe se o acaso quis brincar com seu destino ou se os anjos quiseram ser travessos. Não importa. O que eram compromissos cheios de responsabilidades virou diversão, curiosidade e  alegria. Queria aquela voz por perto, ao alcance e a qualquer momento, nem que fosse só para dizer: se precisar de alguma coisa, eu estou aqui.  E ele parecia estar.
Era fácil ser sincero com quem não tinha rosto, com quem não iria se encontrar,  a quem não iria julgar. E assim ficou combinado  brincar de dizer tudo, de perguntar e responder qualquer coisa, de se entregar. O que começou com respostas simples como “sims e nãos”,transformou-se em  interesses compartilhados, desejos contidos liberados, mágoas confessadas e um inexplicável tesão.  
Dava até medo.
E deu!
Tanto medo que ela fugiu de si mesma, de seus sentimentos e de todo esse turbilhão. Quando viu finalmente o brilho de seus olhos pertinho de seu rosto, a poucos centímetros de seu corpo e ao alcance de seus braços, ficou com mais do que medo. Sentiu verdadeiro pavor.
Pavor de perder a magia que tinha e sentia por ele até aquele minutinho,  pavor de não saber mais fugir daquele frisson, pavor  que o corpo roubasse a força daquela voz. E fugiu escondida em palavras desconexas e abobalhadas, gestos perdidos e medrosos e olhares fugidios.
Quis se esconder dentro da primeira caixa preta e lacrada que pudesse encontrar  e teve medo que ele também assim quisesse. Como ela tivera coragem?
Camuflou a vontade do abraço com a preocupação pelo pouco tempo, com o tardar das horas.
Se antes tinha procurado na bebida a coragem para concretizar as palavras, agora essa mesma bebida lhe roubava a lucidez, o raciocínio... E fugiu do que tanto quis, do que tanto desejou. Quando sentiu o gosto da sua boca, teve vontade de sair correndo, com medo de perder a cabeça, de perder a razão.  E mentiu...e disse a primeira bobagem que veio a cabeça... 
Ela queria ouvir apenas: tudo vai dar certo... relaxa.


Ela prometeu para si mesma apagar todas aquelas lembranças e seguir em frente com a alma leve e o coração esvaziado, mas foi em vão. Quanto mais pensava em esquecê-lo, mais o encravava na memória . Passou a decorar cada linha de expressão de seu rosto, cada timbre de sua voz. E lembrava-se da risada gostosa que ele tinha, da maneira tranqüila com que  falava e a tranqüilizava sempre... E apaixonava-se novamente. Pronto! Todo o esforço em vão!!! Sim, por culpa apenas daquela solta risada. Como era difícil resistir não procurá-lo mais. Quem sabe um dia...

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